Douglas tem 29 anos (2023), é Engenheiro de Controle e Automação, fundador e guitarrista/backing vocal da banda Boca Braba Hardcore. Conheça um pouco mais de sua trajetória nessa entrevista com Douglas do Boca Braba.

Olá Douglas! Muito obrigado por aceitar o convite para essa entrevista.
License Your Media: Como é o Douglas no dia a dia, o que gosta de fazer quando não está envolvido com a música?
Douglas: Fora o trabalho, que toma a maior parte do meu tempo, curto ficar em casa com minha namorada e nossos gatos ouvindo som, cozinhando alguma larica e tomando umas cevas assistindo alguma besteira no Youtube. Sempre que posso faço algum exercício também… uma nadada, um treino na academia, surf quando estou na praia, Jiu, etc… não dá pra ficar parado! Além disso, reservo também um tempo para tudo que envolve a banda sem ser a música em si, mas correr com o merch, redes sociais, shows, etc.
Qual tipo de séries ou filmes gosta de assistir? Poderia deixar umas dicas pra galera?
Quanto mais o tempo passa, menos paciência eu tenho para assistir alguma coisa… acho que o mundo está nos deixando assim, impacientes. Mas curto ver filmes/séries/documentários ligados a música. Acabei de assistir ao filme “Yesterday”, uma história sobre como seria o mundo sem Beatles, bem da hora, vale tirar um tempo para ver.
Surpreenda a galera, manda uma playlist inusitada, uma que a galera pense assim: “poxa, não imaginava que o Douglas curtisse esses sons”.
Wishbone Ash, Blue oyster Cult, Horisont, Wucan, Aswad, Steel Pulse, The Smiths, Artic Monkeys, The Cure, Tim Maia, Titãs, Plebe Rude, Black Trip, Pleasure Band, etc.
O que sua família costumava ouvir na sua casa quando você era criança e como isso te influenciou?
Minha mãe sempre foi a mais ligada em música na minha casa, então a maioria das coisas foi ela que me apresentou. Queen, Uriah Heep, Kiss, Genesis, Bob Dylan, Jeff Beck, Led, Van Halen, Guns… no carnaval tocava direto Terra Samba e Ivete também…
Alguém na sua família, de alguma forma, lhe incentivou ou inspirou a prender a tocar?
Pouco tempo depois de começar a arranhar no violão, pedi para os meus pais uma guitarra. Meu pai ficou pilhado e de cara não apresentou muita resistência, mas minha mãe não quis torrar uma grana sem saber se eu realmente teria algum interesse nisso. Então, a condição, por mais clichê que pareça, foi tirar Stairway To Heaven no violão, COM SOLO, até o natal… se eu conseguisse, a guita tava garantida. Não sei como, mas no natal, eu estava faceiro com a minha guitarra nova.
Qual foi o show, ou disco que explodiu sua cabeça?
O primeiro grande show que eu fui, na verdade festival, foi o Live N’ Louder em 2005, no Gigantinho – Porto Alegre/RS. Nesse show, o Hígor, meu amigo e infância e atual colega de banda na Boca Braba, estava comigo… lembro que estávamos no colégio nessa época, acho que tínhamos 11 anos, e minha mãe que nos levou. No festival tocaram as bandas: Toccata Magna, The 69 Eyes, Rage, Destruction, Shaman, Nightwish e Scorpions. Lembro até do cheiro daquela noite… as acrobacias do baterista do The 69 Eyes, o choque que foi conhecer Rage, Shaman com André Matos… hoje em dia é muito louco pensar que eu já assisti Destruction ao vivo na minha cidade! Se eu não estou enganado, esta também foi a última apresentação da Tarja Turunen com o Nightwish.
Quais são outros sons que você poderia dizer que são suas influências principais?
Além das doideiras psicodélicas já citadas, para o início da Boca Braba as principais influências foram de bandas de NY Hardcore e Thrash. Biohazard, Rage Against The Machine, Madball, Testament, Suicidal Tendencies… das bandas nacionais, com certeza posso citar Planet Hemp, Ratos, Raimundos, Vômitos & Náuseas, Sepultura, Nação Zumbi e Charlie Brown Jr.
Qual foi o momento em que você pensou vou montar o Boca Braba?
A Boca Braba foi resultado de uma união despretensiosa entre alguns amigos para fazer um som no aniversário de outro amigo em comum da galera. Os pais dele iam viajar e a ideia era fazer um “mini Woodstock Viamão” durante o final de semana. Ele recrutou todo mundo que sabia tocar algum instrumento e mandou a galera ensaiar um set e juntos uns equipos pra fazer um som durante a festa. Tinha tanta gente querendo tocar que acabaram surgindo duas bandas. Uma delas, estava eu, o Vini, Mateus e o Max. Tocamos 5 músicas do Raimundos. Assim que terminamos de tocar, trocamos uma ideia sobre como tinha sido da hora toda aquela história de tirar os sons, se juntar pra tocar, e decidimos seguir com a brincadeira. Tiramos mais uns vários covers e 2 meses depois, estávamos de saco cheio daquilo. Foi aí que decidimos começar a compor. O Vini já tinha muita coisa escrita, pois sempre ouviu rap e já tinha a prática de rabiscar umas ideias. O Higor, que estava na outra banda que também tocou no aniversário, acabou se juntando a nós bem nesta fase. Em pouco tempo surgiram as músicas “Morram Insetos” e “Fuck USA”. Nessa época, eu procurava por um nome que fosse no estilo “Madball” mas com uma pegada mais regional. Lembrei da expressão “Boca Braba”. De largada, pensei que seria legal o nome em inglês, mas “Mad Mouth” foi recusado por absolutamente todo mundo, e realmente é uma bosta. Dessa forma, surgiu a Boca Braba.
Como foi sua trajetória como música até formar o Boca Braba? Estudou o que? Passou por quais bandas? Passou por outros instrumentos?
Eu comecei a tocar guitarra bem cedo, acho que ali pelos 9 anos idade. Sempre tive uma conexão muito forte com a música, mas como fui atleta dos 11 aos 17 anos, não tive muito tempo para me dedicar a este mundo neste período. Mas mesmo durante todo este tempo, segui fazendo meu som de canto e conhecendo novas bandas, novos estilos… até tentei fazer aulas, mas logo de cara descobri que esse não era o meu lance, nunca busquei ser técnico ou ter uma alta performance tocando. Meu lance sempre foi expressar a minha emoção através das cordas, pois nunca fui muito bom com as palavras… sigo sendo assim até hoje. Uma coisa que sempre me ajudou muito foi tirar músicas de ouvido… Hoje eu sinto que consigo ouvir uma compilação de músicas, de estilos semelhantes ou não, e traduzir a síntese de tudo em uma nova música, com a minha cara.
Ainda hoje você costuma estudar coisas relacionadas à música?
Minha forma de estudar sempre foi escutando muita música, variando bastante os estilos, e tentando compor algo com o sentimento que aquilo me passou. Todos os riffs da Boca Braba nasceram desta forma.
E sobre equipamento, nos fale um pouco do seu set.
Já sei pela fase de querer ter um pedalboard maior que o palco, mas pra quem quer curtir no show enquanto toca, isso é uma bosta. Então com o passar do tempo, fui diminuindo o número de pedais ao mesmo passo que buscava o meu timbre… atualmente utilizo um cabeçote Peavey Valveking 100 e uso a distorção própria dele. De tudo que eu já testei de pedais, só me sobraram um Tunner da Behringer e um Wah-Wah Bad Horsie 2 da Morley. Acho que um show de hardcore precisa ser o mix entre boa qualidade sonora e uma performance forte. Preciso estar bem livre no palco para conseguir me soltar. Então, quanto menos pedal na minha frente, melhor.
Como funciona o processo de criação e composição da banda? Qual etapa você curte mais?
Normalmente eu chego com algum riff maluco, já com uma ideia de batera, e levo pra galera ver. O Vini sempre tem muita coisa escrita também. Então, primeiro tentamos passar aquele som só com o instrumental, e depois que está redondo, começamos a encaixar a letra. Agora tenho utilizo muito o Reaper como ferramenta, então já levo minhas ideias com uma batera eletrônico programa, o que facilita o entendimento e garante que o resultado final não vai ficar muito distante do que eu pensei. A parte mais da hora deste processo é quando conseguimos tocar na íntegra pela primeira vez a música com instrumental e letra. Normalmente gravamos pra voltar do ensaio ouvindo no carro.
E a produção? Como é que vocês trabalham? Pode falar um pouco como o foi o processo de produção?
Tentamos sempre gravar as demos de alguma forma, para chegar no estúdio com uma referência mais crua do que queremos. No início, era apenas gravação no celular mesmo. Como o passar do tempo, aprendemos a utilizar os programas de gravação como Cubase, ProTools e Reaper da vida, então as demos acabaram evoluindo junto neste processo. Na hora de ir para o estúdio gravar, já ensaiamos tantas vezes as músicas que a parte de execução é o menor dos problemas… a busca é sempre pelo melhor timbre, melhores efeitos, ordem das músicas, etc.

Como foram as turnês que o Boca Braba já fez? Alguma história diferente ou engraçada?
As turnês da Boca Braba sempre foram total perrengue, mas sempre divertidas. O fato é que ter uma banda underground não é nada fácil, então só de estar na estrada pra levar o teu som um pouco mais longe, já é muito louco. Com certeza a viagem mais louca que fizemos foi um turnê de 4 shows na Argentina. Lá, nos deram uma verdadeira aula de como é receber e tratar bem uma banda ou quem quer que seja. Uma história legal é, em um dos shows desta turnê, acabamos com o Fernet da casa, e tiveram que comprar qualquer outra porcaria e misturar com Coca-Cola para nos vender. Nesta festa, o DJ intercalava o set com algumas músicas do Brasil, lembro de tocar várias do Ratos. Mas ganhamos mesmo o respeito da galera quando o DJ colocou Legião pra tocar e nós quase saímos no soco.

O que a galera pode esperar do Boca Braba para os próximos meses?
Estamos tentando fazer nascer o quarto full faz algum tempo… tá sofrido, mas vai sair! Além disso, temos alguns shows em Porto Alegre para o primeiro semestre do ano, alguns materiais no Youtube também prontos para soltar e bastante merch… agora assumi de vez a produção das camisetas da banda… montei uma pequena serigrafia e estamos produzindo a maior parte do nosso merch em casa… estou investindo bastante tempo nisso.

Como a galera pode apoiar esses projetos?
Existem diversas formas de apoiar uma banda underground, mesmo sem grana. Compartilhando nossos sons, mostrando para os amigos mais próximos, indicando para produtores na tua cidade, nos enviando algum feedback. Quem tiver com uma graninha no bolso, cola junto nos shows e dá aquela chegada na banquinha do merch pra levar uma lembrança pra casa.

Como podem acompanhar a agenda de shows?
Acompanhando nossas redes, principalmente pelo Instagram e Facebook.
INSTAGRAM: @bocabrabahc
FACEBOOK: https://www.facebook.com/bocabrabahc
Tem mais alguma coisa que você gostaria de falar pra galera que acompanha o seu trabalho?
Gostaria de agradecer aos que nos acompanharam até aqui… o som que fazemos é de alma e é para vocês! Para a galera que já frequenta a cena, busquem também levar a galera mais nova, eles são a próxima geração. Se a gurizada não abraçar a causa, o ciclo não se renova e a cena perde força. Para quem gostaria de ter uma banda, tenha uma banda! Se você ganhar dinheiro com isso, pelo menos vai ter uma ótima válvula de escape!

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Top demais essa entrevista 🤘